12 dezembro, 2006

A DOR E A VOZ

Mais um caderno, ainda de 1999, que contém apenas matéria relativa a duas intervenções então feitas: sobre o poeta «popular» António Aleixo e o lugar da dor na sua poesia, num colóquio em Loulé; e sobre a «voz» que fala no texto traduzido, neste caso uma intervenção em alemão (e aqui fica um fragmento na língua original, para quem o possa ler) na Universidade Católica.



Aleixo: «A dor também faz cantar...»

... a poesia cria espaços em que a dor é, não excluída, não travestizada nem espectralizada (como acontece nas sociedades de hoje), mas serena ou violentamente convocada, e a arte mostra então como ela é uma parcela inalienável da condição humana. Como quase sempre, é a arte, e não a sociedade, a revelar essa consciência. Aceitando o desafio do abandono dos deuses como fonte da dor, o poeta coloca-se acima deles e fala «sobre a escassez, escombros (Maria Velho da Costa, Dores), «cantar, cantar e arranhar / a velha cicatriz» (Casimiro de Brito O Livro das Quedas, Roma Editora, 2005) ou «a torpe sociedade onde nasci» (Aleixo), num tempo que parece ter alguma dificuldade em entender que a dor é necessária «neste nosso mundo que se arrisca a afogar-se numa maré de instruções para ser feliz» (como escrevia, já em 1983, o psiquiatra Paul Watzlawick no curioso livrinho Instruções para se ser infeliz).



Também um dos poemas minimais de António Osório (agora reeditado numa selecção da sua poesia pela Assírio & Alvim: Casa das Sementes. Poesia escolhida) diz: «O tempo não deseja ser feliz. / Por isso nós o seguimos.».


Aleixo, esse foi construindo com os seus versos um roteiro da sua própria infelicidade e da miséria dos tempos. Hoje, os novos mandarins da sociedade do consumo e dos «big shows» não nos deixam ser infelizes, não nos deixam fumar nem beber, no fundo não querem deixar-nos fazer o amor livremente. Esquecem, ou nunca souberam, que o indivíduo tem direito a gozar a sua solidão, ou a construir a sua própria infelicidade. Que mais não seja, para não ir na onde. Como um dos meus autores preferidos, Pascal Quignard, autor de «pequenos tratados» nem sempre jubilosos, e que também não vai certamente na onda:
«A minha vida, se tivesse dependido da felicidade e do reconhecimento, teria sido privada dos únicos valores que eu lhe atribuí: a imprevisibilidade dos dias, a violência da alma, os desejos que se mantêm à margem do mundo, o irromper da linguagem silenciosa, a independência rude, região mais ciosa de si, e ainda mais susceptível e mais inacessível do que a liberdade.» (Rhétorique spéculative, 1997). Aleixo – que, na verdade, nunca chegou a ser um homem livre – foi também um espírito de «independência rude» que não comprou a felicidade com ilusões.


Die dritte Stimme

Die Frage nach der Übersetzung ist heute für mich die Frage nach der Stimme, besser: den Stimmen, die in der Übersetzung gehört werden können. Anders ausgedrückt: Wer, oder Was, spricht im übersetzten Text, einem Text, dessen Beschaffenheit sich meines Erachtens über das hergebrachte Begriffspaar Identität-Alterität nicht mehr bestimmen läßt. Bei Paul Ricoeur (in Soi-même comme un autre, Paris. Seuil 1990) finden wir einen dritten Begriff, den der "Ipseität", den ich für die Bestimmung der sprachlichen Besonderheit des übersetzten Textes angemessener finde. Die Stimme, die in der Übersetzung hörbar wird, kann natürlich nicht die des Originals sein (Benjamin sagt: höchstens ein Echo davon), aber sie ist auch nicht die der Originalwerke der Zielsprache (nicht einmal wenn der Autor-Übersetzer, wie die herrschende Praxis in Portugal seit dem 19. Jahrhundert zeigt, den Anderen völlig an sich assimiliert und ihn "domestiziert"). Schon Goethe hebt diese Sonderstellung der Sprache von übersetzten Werken und ihren oft innovativen Charakter hervor, wenn er in den "Noten" zum Divan von einem "Dritten" spricht.


Der Übersetzer ist somit, um noch mit Ricoeur zu sprechen, ein vom Anderen affiziertes - ich scheue nicht zu sagen: inffiziertes - Ich, oder, wie dieser französische Philosoph sagen würde, ein Selbst, das den Anderen von vornherein in sich trägt (Soi-même comme /= en tant que/ un Autre; Deutsch: Das Selbst als ein Anderes, oder, bei Goethe, "eins an der Stelle des Anderen", und nicht “an seiner statt”). Diese dritte Stimme habe ich woanders (nun an den genetisch-performativen Aspekt des Problems denkend) als "das vielfältige, mehrschichtige Gedächtnis meiner Muttersprache und ihrer poetischen Tradition" definiert, und sie näher bestimmt als den verfügbaren Fundus (Wittgenstein sprach von einem "Werkzeugkasten") von alledem, was ich davon bewußt und unbewußt mit mir herumtrage. Wer in der Rolle des Übersetzers schreibt, teilt sich zwischen dem Appell des Anderen und der Suche nach verborgenen, oft verschütteten Schichten seiner eigenen Sprache und Literatur, jenseits dessen, was die Gemeinsprache oder jene sinnlose Abstraktion der Sprache schlechthin zu bieten haben. Die geteilte Stimme des Übersetzers wäre in diesem Sinne eine "vaterlandslose Sprache" (wie ein junger portugiesischer Autor es sieht), was jedoch nicht heißt, daß sie ohne Muttersprache dasteht, sondern, daß sie bereits eine Reife erreicht hat, die es ihr erlaubt, ohne sie auszukommen, um sich frei von den Zwängen und Einengungen der Gemeinsprache, vom grammatikalischen Nomos entfalten zu können. In dieser dritten Stimme hallt dann, sowohl das aus dem Anderen kommende fremdartige Sprach- und Kulturgut, als auch jenes "unendliche Rauschen", das, laut Maurice Blanchot, sich unter dem gemeinen Wort öffnet und eine unerschöpfliche Quelle zu sein scheint. Es enthält, virtuell, die Totalität des latenten, auf eine Form wartenden Textes der Übersetzung: Wort und Buchstabe, Metrik und Rhythmik, Geschichte und kulturelle Bezüge, Schweigen und Atmen der Rede... Folgt man dieser performativen Auffassung der Sprache im Prozeß der Übersetzung, dann wird das Wort, der Logos (wie in Fausts Übersetzungsmonolog) zur Tat: etwas wird zwischen zwei Sprachen aktiviert (Benjamin, Rosenzweig oder Derrida würden hier hinzufügen: mit Blick auf eine drittletzte, reine Sprache, so etwas wie Goethes “Urphänomen” im Bereich des Sprachlichen); etwas, ein Drittes, mischt sich ein.

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