21 novembro, 2006

O REINO DA ESCRITA

A palavra é, no palco barroco, a antítese da Criação primordial: esta gera mundo pela palavra dita, o mundo alegórico do teatro barroco cai no silêncio, é mudo, como a Natureza. Quando fala – e nisto continua a ser natureza – é para soltar um lamento. A palavra deu lugar à escrita (como nas sentenças escritas em faixas que saem da boca das figuras na pintura da época).


J. B., Diário para WB

Hoje, a palavra, na sua versão verborreica e triturante, invadiu o mundo e está a destruir a criação. A escrita transformou-se na imagem agressiva da poluição visual. O mundo de hoje não é «barroco», porque para isso falta-lhe a «vontade de estilo» uniformizadora do século XVII. A sua exuberância é a da pura caoticidade, que confunde todas as linguagens.

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