Thomas Bernhard
UM ROMANCE É UMA CASA
(O «Vierkanthof», Obernathal, Ohlsdorf / Alta Áustria
UM ROMANCE É UMA CASA
(O «Vierkanthof», Obernathal, Ohlsdorf / Alta Áustria
O processo de reconstrução de uma casa (e Bernhard fê-lo com várias casas ) é um tópico extremamente significativo em alguns dos seus livros (particularmente em Correcção, acabado de sair em tradução portuguesa na editora Fim de Século), na medida em que a casa surge aí como uma espécie de obra-de-arte-vital (um Lebenskunstwerk), mas não total (no mundo de Bernhard tudo é parcial e transitório), como metáfora de uma outra relação entre arte e natureza (que altera a própria noção de natureza, deslocando-a para o artificialismo da construção). O romance é então como que o contraponto literário da casa a re-construir, mais do que a construir de raiz – como na casa-cone de Roithamer em Correcção, ou na célebre casa que Wittgenstein projectou para a irmã em Viena, que funcionam como contra-utopias racionalistas a que o rigor arquitectónico-musical da prosa de Bernhard, aliás, não é estranho.
O pequeno video que aí está diz isto muito melhor, na sobreposição ritmada de elementos da casa de Bernhard em Obernathal/Ohlsdorf, numa breve visita – apenas exterior – que é como um passeio por um livro seu. Há uma sequência de páginas (fachadas, janelas, portas, ritmos arquitectónicos, a neve), que se sobrepõem e repetem na sua música, acompanhada por outra, música minimal e repetitiva, mas em que cada acorde (cada página) é ouvido (é lida) num momento diferente, encadeada com as anteriores e as que se seguem, como nos livros de Bernhard, em que o efeito de repetição e variação cria no leitor o desejo de prosseguir, na esperança de que o tom, o registo, os conteúdos, mudem. Mas geralmente não mudam, porque são um baixo contínuo com tema e variações em primeiro plano. Este pequeno video da casa é um excelente espelho disso.
O pequeno video que aí está diz isto muito melhor, na sobreposição ritmada de elementos da casa de Bernhard em Obernathal/Ohlsdorf, numa breve visita – apenas exterior – que é como um passeio por um livro seu. Há uma sequência de páginas (fachadas, janelas, portas, ritmos arquitectónicos, a neve), que se sobrepõem e repetem na sua música, acompanhada por outra, música minimal e repetitiva, mas em que cada acorde (cada página) é ouvido (é lida) num momento diferente, encadeada com as anteriores e as que se seguem, como nos livros de Bernhard, em que o efeito de repetição e variação cria no leitor o desejo de prosseguir, na esperança de que o tom, o registo, os conteúdos, mudem. Mas geralmente não mudam, porque são um baixo contínuo com tema e variações em primeiro plano. Este pequeno video da casa é um excelente espelho disso.
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