21 agosto, 2007

Férias?

Não propriamente. Férias seria assim, segundo Musil, em 1913 como hoje:

(...) Voltemos ao nosso banco na montanha, com a manada de vacas à nossa frente. Imagina um alto funcionário da Chancelaria sentado aí, com calças de cabedal novinhas em folha, suspensórios verdes com as palavras Grüß Gott bordadas em cima. O homem representa o real conteúdo da vida em férias. Isso implica, naturalmente, naquele momento uma transformação da consciência que ele tem da sua existência. Ao contemplar a manada de vacas não conta, não faz cálculos, não avalia o peso dos animais vivos que pastam diante dele, perdoa aos seus inimigos e pensa com tolerância na família. De objecto prático que é, a manada tornou-se, para ele, um objecto moral. É claro que também é possível que ele se ponha a fazer alguns cálculos e contas e não perdoe completamente, mas então tudo isso será pelo menos envolvido pelo rumorejar da floresta, o murmúrio dos riachos e a luz do sol. Tudo isso se pode dizer numa frase: aquilo que normalmente constitui o conteúdo de uma vida surge-lhe agora como algo «longínquo» e «no fundo, sem importância».


– É o estado de espírito de quem está em férias – completou Agathe mecanicamente.
– Exactamente! E se a existência fora do tempo de férias lhe parece «no fundo, sem importância», isso quer apenas dizer: até as férias acabarem. É esta, então, a verdade de hoje: as pessoas têm dois estados de existência, de consciência e de pensamento, e defendem-se do susto fatal que isso lhes deveria causar considerando um deles como sendo as férias do outro, a sua interrupção, um descanso ou qualquer coisa que julgam conhecer. (...)

Eu simplesmente mudo de lugar por uns dias, vou para outros tons de azul – daqui a pouco estou de volta!

______________________________________



Sem comentários: