Eduardo, caro amigo,
estou longe e não posso acompanhar-te na viagem que a Grande Ceifeira te obrigou a fazer. Há mais de trinta anos, lembras-te, quando nos despertavas para os novos caminhos da teoria estruturalista, já com aquela escrita envolvente e rigorosa que sempre foi a tua, alguém escrevia, assinalando esse inevitável e frutuoso despertar: "Enfin, Édouard vint!" Hoje, perante esta incompreensível decisão da Segadora, cega e indiferente, absurda e arbitrária, pergunto-me: "Pourquoi Édouard s'en va?" E não encontro resposta. Não há resposta, apenas revolta, para os desígnios insondáveis e tantas vezes injustos da Grande Desconhecida. Não encontro respostas. Só perguntas: Por que razão são quase sempre os melhores que partem cedo de mais? (Duvido que seja porque os deuses os amam mais, como, ingenuamente, escreveu o poeta.) Por que é que a foice corta cerce a inteligência, a lucidez, a sensibilidade, e deixa tanta boçalidade à solta? Pourquoi, Édouard, tu t'en vas?
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