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ANJOS NOVOS: DO ACTUAL E DO EFÉMERO
Paul Klee, Angelus Novus (1920)No texto programático que anuncia a revista Angelus Novus (que nunca chegou a sair), Walter Benjamin reflecte, como fará por mais de uma vez em escritos posteriores, até ao derradeiro, as Teses sobre o conceito da História,sobre a noção de «actualidade».
Nesse texto, escrito na Suíça em 1921, a primeira definição do «actual» liga-se já ao que se reafirmará em todo o projecto do livro sobre Baudelaire e as Passagens, e a Tese II deixa claro, aqui em termos indisfarçadamente messiânicos. Dessa definição podemos extrair a ideia (sobre a qual o momento actual faria bem em reflectir) de que é absurda qualquer noção de actualidade que não integre uma profunda consciência da historicidade inerente a todo o presente – cuja marca mais inequívoca é, paradoxalmente, a sua efemeridade. O que é actual não é, então, o novo em si (muito menos a novidade), mas a «origem» de onde saltou o que nos toca no presente, e aquilo que, nesse presente, suscitou o seu aparecimento (na lenda a que me referirei adiante, isso é «Deus», o que há de menos actual e efémero, o substrato imóvel e imutável do tempo).
O texto programático da revista – cujo título remete para o pequeno quadro de Klee adquirido por
«... Tocamos no lado efémero desta revista, de que ela tem consciência desde a primeira hora. É este o preço justo exigido pela sua busca da verdadeira actualidade. Há mesmo uma lenda talmúdica segundo a qual os anjos – a cada momento sempre novos, em legiões infinitas – são criados para, depois de terem entoado os seus hinos na presença de Deus, deixarem de existir e se dissolverem no nada.»
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