22 fevereiro, 2007
ANJOS NOVOS: DO ACTUAL E DO EFÉMERO
Paul Klee, Angelus Novus (1920)
No texto programático que anuncia a revista Angelus Novus (que nunca chegou a sair), Walter Benjamin reflecte, como fará por mais de uma vez em escritos posteriores, até ao derradeiro, as Teses sobre o conceito da História,sobre a noção de «actualidade».
Nesse texto, escrito na Suíça em 1921, a primeira definição do «actual» liga-se já ao que se reafirmará em todo o projecto do livro sobre Baudelaire e as Passagens, e a Tese II deixa claro, aqui em termos indisfarçadamente messiânicos. Dessa definição podemos extrair a ideia (sobre a qual o momento actual faria bem em reflectir) de que é absurda qualquer noção de actualidade que não integre uma profunda consciência da historicidade inerente a todo o presente – cuja marca mais inequívoca é, paradoxalmente, a sua efemeridade. O que é actual não é, então, o novo em si (muito menos a novidade), mas a «origem» de onde saltou o que nos toca no presente, e aquilo que, nesse presente, suscitou o seu aparecimento (na lenda a que me referirei adiante, isso é «Deus», o que há de menos actual e efémero, o substrato imóvel e imutável do tempo).
O texto programático da revista – cujo título remete para o pequeno quadro de Klee adquirido por Benjamin nesse ano de 1921, o Anjo Novo que servirá de ominosa alegoria do «vendaval do progresso» na Tese IX, a do Anjo da História), termina também com o motivo da «verdadeira actualidade», e com uma elucidativa lenda da tradição talmúdica, que exprime exemplarmente a relação entre o actual e o efémero. E mostra como o presente é um ínfimo ponto na linha do tempo, um não-tempo onde se chocam, iluminam e dissolvem passado e futuro. O actual, para Benjamin, é aquilo que vem de trás, explode (de significação) no presente e se dissipa, disponível para novos futuros. A lenda talmúdica di-lo, na imagem das legiões de anjos novos que, imagino, desfilarão ad aeternum perante Deus, sempre os mesmos e sempre outros:
«... Tocamos no lado efémero desta revista, de que ela tem consciência desde a primeira hora. É este o preço justo exigido pela sua busca da verdadeira actualidade. Há mesmo uma lenda talmúdica segundo a qual os anjos – a cada momento sempre novos, em legiões infinitas – são criados para, depois de terem entoado os seus hinos na presença de Deus, deixarem de existir e se dissolverem no nada.»
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