27 dezembro, 2006


OS DILEMAS DO PODER

«Um rei que pára para olhar para si é um homem desgraçado». A frase, de Pascal, é aplicada por Walter Benjamin ao príncipe do drama barroco. E quer significar que o homo politicus está condenado, faça o que fizer. Preso por ter cão e preso por não ter, está condenado à fuga para a frente, ou à imobilidade fatal. Não pode parar para olhar para si, para o que é – mas ele nunca é, serve sempre qualquer fim – e para o que fez, sob pena de ter de se suicidar; e se pára, caindo na melancolia, contradiz o seu papel no mundo, e cai na loucura (mas os políticos, pelo menos hoje, nunca enlouquecem, porque nunca param).


Todo o político, hoje também, é presa do «demónio dos opostos», da dialéctica de Saturno. Mas as coisas mudaram, também neste campo. No espaço desta dialéctica, entre a indolência acidiosa e a força da inteligência na contemplação, se desenrola a história da melancolia do soberano no ancien régime, conclui Benjamin. Hoje, não há qualquer relação entre política e melancolia. O alibi democrático e a cegueira do «progresso» libertam o político para a irresponsabilidade, para a não necessidade de saber (própria da contemplação melancólica): o que ele tem de fazer é apenas «realizar obra» e preparar as próximas eleições. E não lhe faltam bobos, dentro e fora da corte, para o distrair e evitar se desgrace, que o mesmo é dizer: que olhe para si.

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