21 novembro, 2006


QUESTÕES DE LINGUAGEM

Regresso a Walter Benjamin.

Questões de linguagem, questões de sentido e da vida das palavras, falsos amigos e incongruências: o termo alemão Sage, aplicado no século XIX pelo helenista Wilamowitz-Moellendorf à matéria da tragédia grega. As traduções existentes do livro de Benjamin sobre o drama do Barroco – nomeadamente a brasileira – traduzem (decalcam) por saga. Mas basta ter lido um dia esse clássico das «formas simples» (Einfache Formen, de André Jolles) para perceber a diferença entre os termos, ambos alemães, Sage (lenda) e Saga (saga).


J.B., Diário para WB

A diferença é, segundo Jolles, constitutiva da matéria e do seu desenvolvimento em cada uma destas formas. A Sage (lenda) tem uma atitude e uma substância espirituais (Geistesbeschäftigung) que faltam à saga familiar: esta é uma designação que se aplica às narrativas nórdicas primitivas e a algumas formas do romance moderno, que encontraram desde logo forma escrita, ao passo que a lenda grega, ou as lendas europeias modernas, se transmitiram oralmente, até atingirem o estádio da sua fixação escrita – e aí já não se chamam lenda, mas epopeia (ou tragédia). Benjamin deixa claro, ao citar Wilamowitz, que ao usar o termo Sage está a falar das tradições que levam à epopeia e à tragédia gregas, e não de formas escritas como as sagas modernas. Equívocos de tradução como este, histórias de «falsos amigos», há muitos na tradução brasileira de Origem do Drama Trágico Alemão.

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