15 novembro, 2006
O INTRIGUISTA
A trama (Foto: J.B.)
Releio as páginas de Benjamin sobre uma figura colossal do drama barroco, o o intriguista. O intriguista está todo ele dentro da História, enquanto a figura do pretenso poder temporal, o príncipe, se tornou natureza. A condição deste não é agónica, como na tragédia antiga, mas criatural, como no início, ou nas crónicas medievais.
J. B., Diário (pormenor)
Para Benjamin, esta é uma figura sem poder nem vontade (quando se esperaria que poder e vontade fossem a sua natureza), porque é toda luto e melancolia.
Albrecht Dürer, Melencholia I
Que diferença em relação aos «príncipes» de hoje, depois do processo da dialéctica negativa e do «fim da História»! Bush é hoje o príncipe da acção arbitrária no palco vazio de antagonistas da história contemporânea.
Já o cortesão, o intriguista, é outra história. Situando-se fora da esfera criatural, a-histórica, da política, o seu papel é o de «senhor das significações» e contra-regra do palco da História. Hoje, a «corte» (o mundo dos negócios e da alta finança) está também cheia deles. Mas falta-lhes, apesar de todo o seu poder, a grandeza maquiavélica.
E um outro traço essencial da grande personagem do drama barroco: os intriguistas de hoje não conhecem a alma humana, só vêem os números e as películas – de marca, naturalmenhte – que a envolvem. Enquanto o intriguista de outrora levava três actos para conseguir alcançar os seus abomináveis objectivos, os de hoje passam a perna ao parceiro em dois tempos.
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