09 setembro, 2007

ADENSAR A PALAVRA

Um dia hei-de traduzir assim a Poesia Toda de Hölderlin, na letra e no espírito desta amostra, o poema Wie wenn am Feiertage...










Então, frente ao espelho de versões anteriores, Hölderlin soará talvez mais a saído da terra e mais serenamente próximo do deus por vir que buscava, natureza e poema serão feitos do mesmo barro, como queria. Então, o «dia santo» será «dia de festa», o «trovão que ruge ao longe» será «a portentosa vibração dos ares», os que «pressentem sempre» serão «sempre futuro» e a natureza que anticipa estará «futurando»; o «entusiasmo» torna-se «o júbilo da alma», a «força dos deuses» é «pujança viva dos deuses», o canto que era «patente ao infinito» torna-se «hóspede da casa do infinito», o «espírito» que nele sopra é o «ruah», e os «poetas» – palavra abastardada – serão aqui sempre «aqueles que adensam a palavra» (= Dichter, de dicht: denso, espesso) para oferecer, não ao «povo», mas à «luz comum», a «edénica dádiva que o canto oculta». Os «Celestiais» serão simplesmente «os do céu», e os «sacerdotes» «oficiantes». E o andamento do verso não será «coleante», mas estocástico, e a sintaxe estará cheia de ângulos agudos, sem contemplações para com a lisura da desconversa deste tempo (do insuportável Geschwätz, como lhe chamaram Heidegger e Celan).
Assim o poeta me ajude.

Talvez se chegue mais perto ouvindo-lhe o ritmo na casa desta outra língua... (em duas partes – exigências do Blogger).



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