26 janeiro, 2007
Salta-me de um ensaio sobre as «Passagens» em Benjamin a frase: as formas de expressão do pensamento em Walter Benjamin. Aspecto fulcral neste pensador de tanta realidade hipercomum que, dada a focagem nítida e oblíqua a que é submetida, ganha perfis insólitos, contornos novos, recorte concreto, sensível – quer se trate de toda uma época (o Barroco ou a «Modernidade»), de um autor clássico ou moderno ou de um qualquer objecto dos interiores burgueses de há cem anos ou da rua das primeiras grandes metrópoles.
Desenho de W. B.
Em Benjamin o pensamento não é apenas um repositório conceptual, ou a massa de que se faz um sistema. Assume formas, diversas e adequadas a cada objecto, neste criador de «imagens de pensamento». Formas que lhe são essenciais e não exteriores ou meramente adjacentes. Há uma funcionalidade intrínseca da forma no pensamento de Benjamin, que o leva a escolher modos de expressão, géneros e subgéneros literários e filosóficos, por vezes também proto-formas que servem melhor o seu pensamento flutuante. O espectro é imenso: do «tratado» ao ensaio, da crítica filosófica ao fragmento, do conto radiofónico ao soneto, da recensão à polémica, do aforismo à citação.
A forma torna-se então a pele que se molda ao corpo do pensamento como um vestido molhado ao de uma mulher.
O invólucro faz ressaltar a forma – que neste caso é a própria substância, o pensamento.
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