O LIVRO NO BOLSO
Começou ontem, na «Sala de Leitura Jorge de Sena» do CCB, mais uma aventura do livro. Do livro em busca de caminhos de sobrevivência e de afirmação em tempos e numa constelação cultural já só «vocovisuais» (como diria Joyce, se cá voltasse), e em que o «verbo» definha a olhos vistos. O verbo pensante ou criador perdeu, aliás, definitivamente visibilidade e aceitação no espaço público da comunicação impressa: pura e simplesmente não temos jornais nem revistas em que o livro mereça a atenção que lhe é devida, em que o pensamento seja actuante.
A aventura que agora começa é a de uma colecção de livros de bolso lançada para um mercado que não tem tradição deste formato, e para as mãos de livreiros que, com raras excepções, não estão interessados em promover o livro, mas tão somente em retirar os seus dividendos da indústria do livro. São três os editores desta aventura, e intitulam-se, já no título da colecção «independentes» — de grupos económicos, do mainstream editorial, da literatura rasca, eufemistica e cosmopolitamente dita light. Testam o mercado com livros de qualidade a preços baixos (de 4 a 14 Euros, consoante o volume).
Os primeiros títulos, saídos dos catálogos de cada uma das editoras — Assírio & Alvim, Relógio d'Água e Cotovia —, espelham apenas em parte o perfil futuro deste «Biblioteca de Editores Independentes», que virá a incluir inéditos e autores contemporâneos: os livros ontem apresentados são clássicos, clássicos antigos e modernos, e cobrem as três grandes áreas da colecção: a ficção, a poesia e o ensaio. Alguns dos títulos escolhidos para o début são inquestionavelmente felizes, outros nem tanto (porquê Sá-Carneiro ou a Mensagem, em vez de um Pessoa múltiplo, na sua verdadeira dimensão?). Mas outros virão. Trinta até ao fim do ano, conforme foi anunciado.
Gosto de livros de meter no bolso e ler no autocarro ou no metro (mais ainda em aeroportos, onde o tempo muitas vezes é mais alargado). Desde os tempos de estudante que os conheço assim, perto do corpo. São aqueles de que(m) não conseguimos apartar-nos, que nos lembram que estão ali quando metemos a mão na algibeira. Mas o que eu gostava mesmo era de dar uma volta por algumas livrarias daqui a um ano (menos, se possível) e constatar que o livro de bolso ganhou direito a lugar cativo nelas, como acontece aqui ao lado, em Espanha, e por essa Europa fora. Era um sinal, um bom sinal, de que vamos sendo — devagar, muito devagar — também nós mais Europa. Por enquanto, vamos esperar para ver. Ninguém arrisca prognósticos confiantes neste domínio e neste país.
A aventura que agora começa é a de uma colecção de livros de bolso lançada para um mercado que não tem tradição deste formato, e para as mãos de livreiros que, com raras excepções, não estão interessados em promover o livro, mas tão somente em retirar os seus dividendos da indústria do livro. São três os editores desta aventura, e intitulam-se, já no título da colecção «independentes» — de grupos económicos, do mainstream editorial, da literatura rasca, eufemistica e cosmopolitamente dita light. Testam o mercado com livros de qualidade a preços baixos (de 4 a 14 Euros, consoante o volume).
Os primeiros títulos, saídos dos catálogos de cada uma das editoras — Assírio & Alvim, Relógio d'Água e Cotovia —, espelham apenas em parte o perfil futuro deste «Biblioteca de Editores Independentes», que virá a incluir inéditos e autores contemporâneos: os livros ontem apresentados são clássicos, clássicos antigos e modernos, e cobrem as três grandes áreas da colecção: a ficção, a poesia e o ensaio. Alguns dos títulos escolhidos para o début são inquestionavelmente felizes, outros nem tanto (porquê Sá-Carneiro ou a Mensagem, em vez de um Pessoa múltiplo, na sua verdadeira dimensão?). Mas outros virão. Trinta até ao fim do ano, conforme foi anunciado.
Gosto de livros de meter no bolso e ler no autocarro ou no metro (mais ainda em aeroportos, onde o tempo muitas vezes é mais alargado). Desde os tempos de estudante que os conheço assim, perto do corpo. São aqueles de que(m) não conseguimos apartar-nos, que nos lembram que estão ali quando metemos a mão na algibeira. Mas o que eu gostava mesmo era de dar uma volta por algumas livrarias daqui a um ano (menos, se possível) e constatar que o livro de bolso ganhou direito a lugar cativo nelas, como acontece aqui ao lado, em Espanha, e por essa Europa fora. Era um sinal, um bom sinal, de que vamos sendo — devagar, muito devagar — também nós mais Europa. Por enquanto, vamos esperar para ver. Ninguém arrisca prognósticos confiantes neste domínio e neste país.